Eduardo Caputo
Afinal, o que é patriotismo?!
Por Eduardo Caputo
Pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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O bairrismo, característica implicada aos gaúchos, é talvez a mais interessante de todas que temos. Eu não nego, sou bairrista! A ponto de brincar com amigos de outros estados que nós, gaúchos, gostamos dos braZileiros. Nosso povo irmão. O orgulho que temos da nossa história, cultura, nosso jeito de falar, nossos hábitos, e tudo isso que caracteriza o bairrismo, nos faz tratar o Rio Grande como um país. Inclusive, em um passado recente, virou tema de propagandas na televisão. Eu me arrisco a dizer que, se levarmos em conta várias características do povo gaúcho, talvez sejamos mais patriotas que os hermanos braZileiros.
Mas, afinal, o que é patriotismo?! No Brasil, nos acostumamos a momentos específicos de patriotismo, como a Copa do Mundo, por exemplo. Lembro que em 1994 acompanhei com atenção minha primeira Copa. Do início ao fim, sem falhas. Meu pai colocava uma bandeira do Brasil na sala em dias de jogos da amarelinha, e quando tocava o hino nacional no estádio acompanhávamos junto. Minha mãe achava graça, porque dizia que a bandeira dava azar. Mas isso é história para outro momento. É notório que com o passar do tempo, esse sentimento pela "pátria de chuteiras", que brotava nos corações verde e amarelo a cada quatro anos, foi passando, e de certa forma enfraquecendo. Já faz algum tempo que não vemos entusiasmo nas pessoas, ruas pintadas, bandeiras pelas casas, etc.
Definir "patriotismo" não é algo simples. Mas, de fato, não é apenas um pensamento que nos vincula ao local de onde viemos. É um sentimento que temos por nossa terra, valores, cultura e história. E, talvez por essa definição, eu ainda ache que nós gaúchos temos um sentimento patriota por nosso estado maior que o de país. Não é minha intenção criar um incidente diplomático, é apenas a forma como vejo.
Desde que cheguei aos Estados Unidos, reflito sobre a diferença da força desse sentimento. Por aqui, o sentimento nacionalista toma uma proporção mais forte. É comum ver bandeiras do país hasteadas na frente das casas ou nos quintais. Aquela coisa de enlatados americanos que passavam na televisão, das 9h às 6h. Nos eventos onde o hino nacional é tocado, o silêncio é mortal. Ao momento onde o locutor sinaliza a execução do hino, todos (que puderem) se levantam, se viram em direção à bandeira e quem está de chapéu o retira. Mãos no peito, para os nascidos aqui. Ninguém tira fotos ou mexe no celular. Respeito máximo.
Não se une uma nação em torno de um sentimento da noite para o dia. Não é algo transitório ou sazonal, como o "amor a pátria" a cada quatro anos. É o entendimento de pertencimento pela terra, valores, cultura e história. Somos reconhecidos, mundialmente eu diria, por sermos um povo alegre, amigável e orgulhoso de nossa cultura. Porém, também somos muito diferentes, de norte a sul, em diversos sentidos, o que certamente contribui nessa falta de "sentimento de unidade". Talvez por termos vários "Brasis", dentro de um Brasil, se torna difícil encontrar um ponto comum e de identidade, que una todas essas pátrias em uma só.
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